A resiliência de um viajante  de sapatos prateados
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A resiliência de um viajante de sapatos prateados , livre ebook

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Description

A resiliência de um viajante de sapatos prateados questiona a noção de pertencimento cultural e o manejo da doença psíquica, através de um exemplo de processo de cura pelo Candomblé.





O autor compartilha seu desconforto e sofrimento pelo duplo desenraizamento: teve que ir embora do Brasil, pátria do seu pai para se juntar à mãe na França e viver o caminho da integração; e sua própria identidade brasileira é baseada no desenraizamento africano, na memória dos descendentes de escravos.





Depois de ter interrompido sua vida profissional em Toulouse devido a um processo de invalidez, ele retornou na Bahia em busca do Brasil de Jorge Amado onde finalmente descobriu o trabalho do fotógrafo etnólogo Pierre Verger e a religião do Candomblé através do Ilê Axé Opô Aganju do Babalórixa OBARAYÍ.

Uma identificação com este pai simbólico transcultural e Babalaô, Fatumbi, assim como com sua mãe afro-brasileira, YAKEKERÊ CiCi, parece ter permitido que Fabien Liquori contivesse o sofrimento do desenraizamento. Este livro testemunha uma "cura" e um esforço de sublimação.





Ella Schlesinger



Doutora em Psicologia



Université Lyon 2



Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 18 août 2021
Nombre de lectures 0
EAN13 9782414546459
Langue Français

Informations légales : prix de location à la page 0,0127€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Couverture
Copyright













Cet ouvrage a été composé par Edilivre
Immeuble Le Cargo, 157 boulevard Mac Donald 75019 Paris
Tél. : 01 41 62 14 40 – Fax : 01 41 62 14 50
Mail : client@edilivre.com
www.edilivre.com

Tous droits de reproduction, d’adaptation et de traduction,
intégrale ou partielle réservés pour tous pays.

ISBN numérique : 978-2-414-54646-6

© Edilivre, 2021
Dédicace

À memória de Bruno Vitorio e Deraldo Guere Guere, mortos, lutando…
A minha mãe Danielle e a Minha Mãe CiCi,
Para Ana-Laura meu Coração, meu presente, minha esperança…
É urgente a vida
É urgente um passarinho no céu
É urgente viajar a certos países
Esquecer, sonhar para reconstruir
Algumas saudades
Muitas esperanças
É urgente unir confianças
Multiplicar respeitos e amizades
É urgente destruir os muros invisíveis
E as manhãs frias.
Por teu intermédio Mãe CiCi,
Graças aos laços de amizade tecidos entre nós,
Foi-nos permitido aceder a um espaço terapêutico,
imaginário e simbólico,
Espaço da ordem do inconsciente e, contudo,
do consciente e do voluntário,
Uma vontade que tem sua origem na motivação
de querer se curar e se recuperar.
ARÁAYÉ BÀBÁ NJÉÉ-JÈÈ, BÀBÁ MORÍ Ó, ARÁAYÉ BÀBÁ NJÉÉ-JÈÈ, BÀBÁ MORÍ Ó (Saudação para Oxalá)
A este pai, este estrangeiro…
Introdução
Tendo elaborado um primeiro trabalho no âmbito de um mestrado em Sociologia apresentado à Universidade há alguns anos, gostaria de ele dar continuidade, focalizando elementos singulares de uma identificação à prática do culto aos “Orixás”*, tomando como referência minha própria experiência de “abiã*” nessa comunidade.
De fato, se em muitos casos a experiência retranscrita do culto dos Orixás retoma entrevistas e transcrições de sociólogos, quero aqui poder dar um testemunho dessa experiência, considerando a minha própria vivência e analisando-a. Por outro lado, se em muitos casos o praticante relata, a posteriori , uma experiência já madura da prática do culto, seu testemunho se faz, então, revestindo a figura do antropólogo ou do sociólogo.
No meu caso, foi minha própria pesquisa, no sentido científico do termo, que me permitiu aceder a uma experiência mais vasta, mais profunda para alcançar meu “Eu interior”, no sentido identitário do termo.
Levei muito tempo para emergir de meu “campo” e objeto de análise por nele estar muito estreitamente implicado, já que nele vivo, durmo, respiro e sonho !
Foi então difícil para mim manter um procedimento de objetivação sobre o conteúdo de meu “eu” para daí extrair uma experiência generalizável ou pelo menos explorável a ser usada para uma compreensão sociológica, pois minhas aspirações são feitas no círculo de meu próprio campo de investigação, com relação ao qual não foi fácil tomar a devida distância.
1. Num primeiro momento, irei me contentar em classificar os elementos que constituíram a força motriz e a passagem a uma certa prática do culto aos Orixás ou, mais exatamente, enunciarei as qualidades necessárias para a prática desta religião.
Terei, portanto, que constantemente definir e redefinir os contornos do Candomblé* na minha própria idealização da prática do culto aos Orixás (visto que se trata, também, de uma prática que envolve uma iniciação, ela se inscreve, consequentemente, na oralidade).
Em muitos casos, o Candomblé e a transmissão dessa prática são fruto de uma herança familiar (mas veremos que existem outras maneiras de chegar a ele). O que torna difícil o trabalho de objetivação do participante, é que ele está em estreita comunhão com sua comunidade de pertencimento e, portanto, o pesquisador, para poder realizar o seu trabalho, é ele próprio forçado a se iniciar na prática para poder dela participar.
No meu caso específico (aquele que, por assim dizer, ilustro), devo precisar que vivi quase 27 anos de minha vida na Europa, mais exatamente na França, em um mundo a priori racional e racionalista, intrinsecamente dissociado daquele de que participo hoje.
1. Então, quais foram os elementos que participaram dessa passagem do racional ao sensível ?
2. Eu gostaria de conseguir “modelizar” os caminhos por que passei até agora para explicar como essa prática, aos poucos, integrou-se totalmente na minha vida quotidiana atual.
3. E, finalmente, tentarei relatar como essa prática do culto aos Orixás tornou-se uma solução para meus problemas de saúde, sejam eles de ordem psicossocial ou espiritual.
Nesse percurso singular entre França e Brasil ou mesmo, se se preferir, nesta posição de “entre dois”, este depoimento é de certa forma o resultado da passagem de uma problemática coletiva a um raciocínio de ordem particular relativo a uma espécie de cristalização de um estigma ou discriminação positiva. Ele também se inscreve em um movimento de estigmatização identitária sob o efeito de uma visibilidade mais ampla da questão racial.
Em outras palavras, ao optar por apresentar o caso de uma pessoa que não é afrodescendente, busquei demonstrar a universalidade do culto das religiões de matriz africana. Esse exemplo foi capaz de validar a ideia de que não há distinção étnica e cultural para aquele que é escolhido pelo Orixá. Adotar os Orixás como princípio e crença é questão de destino. Diz um ditado do Candomblé: “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”.
Assim, este trabalho conta a história de vida de Juliano, em uma abordagem poética e busca literária, por meio do enfoque da observação participante de um ângulo psicossocial e analítico.
Posso então de certa forma dizer, como se a citação de Léopold Senghor pudesse ilustrar minha proposta : “A razão é helênica, a emoção é negra”. Pode haver uma sociologia na criação poética ou na literatura se o raciocínio sociológico permanece recorrente ?
O que é interessante notar no trabalho de Estélio Gomberg (Hospital de Orixás, 2011, edição EDUFBA), na Universidade Federal da Bahia, é que este último recoloca o Candomblé em um contexto cultural e de relações interétnicas, a partir de uma abordagem do processo de saúde das populações de matriz africana. Enquanto em muitos trabalhos, e como o faz Rubim de Pinho (Rubim de Pinho, 2002), o fenômeno do transe é descrito no âmbito de estudos comparativos, partindo do fenômeno terapêutico como um tratamento sob o ângulo do olhar clínico e psicológico.
É preciso saber contextualizar o Candomblé por meio do processo histórico da história afro-brasileira, em relação ao contexto escravagista do tráfico negreiro entre a África e a América. Portanto, é importante adotar o ponto de vista da observação participante para se conseguir descrever um fenômeno transcultural. Se de um lado temos o questionamento do médico psiquiatra baiano Rubim de Pinho sobre questões de ordem espiritual, temos no mesmo continuum , no extremo oposto, o livro OBARÀYÍ, feito pelos próprios membros da comunidade religiosa de Candomblé Ilê Axé Opô Aganju do Babalorixá Balbino Daniel de Paula (Obaràyí). Este livro, contado pelos próprios ogãs*, filhos e filhas dessa comunidade, graças à riqueza de seus documentos fotográficos, constitui uma verdadeira reapropriação da memória viva deste lugar. Nesse livro, que reconheço representar um exemplo extremo, o pesquisador se apaga para realizar uma verdadeira autobiografia da história de uma genealogia que constitui a passagem da África até os dias atuais, em Salvador da Bahia.
Mas, de uma maneira geral, o pesquisador também não tem algo a dizer sobre a sua relação e seu posicionamento analítico com relação a seu objeto de análise ? Como produzir um verdadeiro questionamento sem cair no senso comum para dar uma verdadeira orientação a um trabalho de pesquisa ?
No livro Hospital de Orixás, Estélio Gomberg consegue se engajar em uma verdadeira demonstração com um posicionamento de saúde pública ao analisar o objeto saúde-equilíbrio do processo de cura no Candomblé decorrente do mundo afro-brasileiro de matriz africana. Ele institui um verdadeiro diálogo sobre o processo equilíbrio-saúde no Candomblé. Consegue estabelecer laços entre a relação interétnica e o processo histórico brasileiro, dá uma nova dinâmica ao seu objeto, muitas vezes analisado no âmbito de estudos vinculados unicamente à saúde.
Nesse livro, Gomberg tenta estudar e elucidar os problemas associados às questões de saúde nas diversas sociedades e épocas históricas. No Brasil, diversos estudos têm destacado o uso, por grande parte da população, de terapêuticas desenvolvidas por grupos religiosos. Em documentos atualizados, em estudos produzidos por antropólogos e sociólogos, é demonstrada a prática de um uso combinado de serviços médicos e religiosos e de serviços religiosos de tratamento por pessoas de classe média que conhecem e têm acesso à biomedicina.
Nos diversos grupos religiosos em que são propostos serviços de cura – elemento que favorece a adesão religiosa – pouco se sabe sobre os procedimentos terapêuticos desenvolvidos. Se considerarmos que qualquer proposta de reestruturação do sistema médico na sociedade precisa levar em consideração o modo como os indivíduos usam os diversos serviços disponíveis e os efeitos obtidos nas experiências com a doença, o estudo desses procedimentos reveste uma importância bastante particular. As análises dos sociólogos e profissionais da saúde permanecem muito genéricas, contribuindo muito pouco para a compreensão das experiências de tratamento no seio dos grupos religiosos. O livro “Hospital de Orixás”, abordando as questões dos tratamentos ligados aos terreiros* de Candomblé, realizando uma descrição sensível do espaço do terreiro e das concepções e práticas relativas à doença e à cura que são ali praticadas, é uma contribuição importante para mitigar essa lacuna.
Ele introduz o leitor a um conjunto variado de procedimentos e ritos de tratamentos visando a restabelecer a integridade dos seres humanos em sua ação em relação com os Orixás, no espaço do terreiro e com relação às outras pessoas que compõem esse espaço.
Leva-nos a uma imersão no univers

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